Hoje falo sobre o que de bom a
pandemia nos trouxe. Vou deixar de lado os medos, as ansiedades e todos os receios
que temos respirado e focar apenas no que nos trouxe de bonito. Sim é possível focar
em algum muito bom, fechar os olhos, e deixar as palavras fluírem.
Ontem comemorou-se o dia do irmão
e aqui em casa há dois irmãos que se estão a descobrir.
Nos gémeos há uma tendência natural
para os pais “forçarem” essa relação e acharem que se dão real importância (desde
muito cedo) apenas quando sorriem uns para os outros ou se tocam aqui e ali.
Mas a verdadeira relação de irmãos nasce quando esses gestos não são involuntários,
mas sim intencionais. Que bonito é assistir a isso.
Por diversas vezes vimos o Pedro ou
o Francisco a gritar euforicamente “Mano mano anda” ou “mano mano toma é para
ti”. Foram várias as vezes que deixei a emoção tomar conta de mim e as lagrimas
foram difíceis de controlar porque eu nunca soube o que é esta partilha. Este
dividir para multiplicar. Por diversas vezes cederam perante os desejos do
outro (e mais ainda lutaram pelo mesmo mas…. Isso também faz parte certo?) e é
tao bonito!
Do muito que desejo para os meus
filhos esta vontade de que sejam realmente amigos, de que sejam reais na sua
forma de existir enquanto irmãos, que partilhem o bom e o mau, que não sejam manipuladores
nem se achem acima um do outro nesta coisa de partilhar toda uma vida. Não suporto
irmãos que assumem o papel de filhos favoritos e exploram isso de uma forma quase
desumana, filhos que apenas se lembram que têm irmãos porque os pais os lembram
disso… não gosto e revolta-me muito. Será que os pais não percebem que estão a
tomar uma posição favorável a um em detrimento de outro que não pediu para nascer?
(atenção que me refiro a relações de pais e filhos “normais” porque há muitos
pais que nunca deveriam ter autorização para usar esta palavra).
Foi nesta pandemia que percebi
que, eu que gosto de ter algum controlo sobre tudo, quero muito que eles tenham
o seu mundo. Um mundo de irmãos onde só eles entram, com regras que apenas eles
reconhecem, e que se partilhem… que se entreguem um ao outro e que construam
algo absolutamente único.
Nesta casa meus amores, enquanto
eu estiver na minha lucidez não existirão filhos favoritos nem preteridos.
Nesta casa meus amores os braços estarão sempre abertos para vos receber em simultâneo,
sem encontros secretos nem manipulações interesseiras. Nesta casa meus amores
quando existir riqueza é para todos e quando houver pobreza será igualmente partilhada
porque numa família é isso que se faz.
Dou um exemplo real do que fiz. A
nossa casa do Alentejo tem em ferro o sobrenome do meu avô Materno “Pedro” numa
das paredes. E quando escolhemos os nomes dos nossos filhos demos o nome desse
meu avô “Francisco Pedro” ora eu senti-me na obrigação de mandar produzir um
Francisco para acrescentar ao Pedro já feito, uma vez que não ia desvirtuar em
nada a homenagem ao meu avô, antes pelo contrário. Dir-me-ão que exagero sara. Não!
Não sinto que seja, sinto que um dia quando souberem ler e olharem para aqueles
duas palavras se vão sentir igualmente inseridos naquele espaço. Aquela casa é
deles. As histórias que ouvirem contar são dos dois, os brinquedos que irão
encontrar em caixas guardadas serão dos dois, as roupas que vão ignorar e gozar
com a mãe por as ter guardado serão dos dois. Dois!!! Porque eu tenho dois
filhos! Dois amores maiores que não cabem no peito e um não substitui o outro,
eles coabitam e fazem com que ele me bata no peito.
Obrigada aos meus filhos por me
ensinarem todos os dias como é ter um irmão.
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