Nunca lhe toquei, nunca a
cheirei, na verdade continuamos confinadas a uma distância que nos foi imposta
desde o início. Eu em Lisboa e ela no Porto.
A vida tem destas coisas e muitas
vezes é nos momentos menos bons que as pessoas mais importantes nos surgem,
assim foi com ela. O Rodrigo foi o motivador para tudo o que se tem seguido. Um
menino que sei abençoar esta nossa amizade, que será sempre uma enorme lição de
vida, de luta e de vontade de se manter por aqui nesta vida mundana que tantas
vezes maldizemos. Um menino que o malvado do cancro (e não doença prolongada
como insistem dizer) levou. Mais um… Foi
através dele que nos contactámos, foi por ele que fomos trocando mensagens. Depois
vieram mais “rodrigos”. Ela sempre a ensinar-me que por muito pouco que
tenhamos podemos sempre dividir com outros e que isso pode ser muito. Ela obrigou-me
a ser mais solidária, a olhar menos para os meus problemas e mais para quem
está ao meu lado. Mesmo à distância, foi estando sempre presente, pertinho de
mim. Tao pertinho que um dia percebi que jamais a iria largar pois ela já
habitava em mim. Partilhámos historias, medos, alegrias, vontades, desejos… até
os silêncios e a distancia foi sendo cada vez menor. Não a física mas a
emocional. Gosto dela, gosto tanto dela como sei (não, não é arrogância, sei
mesmo) que ela gosta de mim. Depois veio a M… e o que há para não gostar da M?
Nada! Docinha, um reflexo do carinho que a envolve desta mãe gigante, de gestos
maiores ainda. Para completar chegou o A. que ficou com o papel de reunir no
seu abraço estes dois seres maravilhosos.
Nunca lhes toquei, nunca os
cheirei mas sei que um dia nos reuniremos num abraço, que o nosso cheiro se irá
fundir e no ar ficará apenas o cheiro da felicidade que os amigos sentem quando
estão juntos.
Ontem, sob a proteção do Rodrigo
e do São João, eles uniram-se e era suposto estarmos lá… não foi possível. Bem
na verdade, estivemos. Estivemos lá porque os amigos são omnipresentes quando são
verdadeiros. Estivemos porque quis Deus que a M me entregasse um pequeno grande
tesouro para eu transformar para a embelezar no dia de ontem. “Não tem valor
algum material mas para mim é importante, vou enviar-te” disse-me ela. Meus
Deus que responsabilidade. Num envelope chegava uma daquelas pulseiras que
muitos usaram para fins medicinais “banal” disse ela, mas não há nada de
banalidade quando aquele objeto foi usado por alguém que estimamos e com quem
temos ligação. Aquele objeto mundano havia sido usado pela sua avó o que o
transformou na joia mais preciosa. Tentei respeitar essas memorias, deixa-las intocáveis,
dar-lhe uma “cobertura” efémera que em nada ferisse esses afetos. Dei o meu
melhor e ela como amiga que é agradeceu e disse que gostou. Não seria de
esperar outra coisa vindo dela.
A isto juntou-se a P que me levou
a preparar mais uma surpresa e que bonita ficou… para andar juntinho do peito
dela, onde ela sente as suas emoções. Longe? Nunca estivemos tão perto. E ontem
apesar de não termos dado aquele abraço eu sei que eles nos sentiram com a
mesma intensidade que nós.
A vós meus amigos, e quase na véspera
de também nós completarmos aniversário de casamento, desejamos-vos o melhor, o
mesmo que queremos para nós.
Gostamos genuinamente de vocês!