05/01/2020

A MINHA PELE FALA POR MIM...




Escrever na pele é algo recente na minha vida. Foi em 2009 que eu e o João decidimos tatuar a nossa frase, como uma espécie de aliança que apenas chegaria, sob a forma de objecto, em 2010.
Depois dessa veio logo outra que se tornaria a minha cabula diária… aquela a que recorro de forma constante sempre que o pensamento me foge para o negativismo.

Não tatuo por modas ou estímulos exteriores, faço-o sim por necessidade. Porque gosto de ver na pele o que muitas vezes a voz não grita, ou o que tendo a esquecer no dia a dia. Tatuo porque preciso, porque me sinto mais plena ao faze-lo. Não o faço para os outros, faço-o por e para mim e talvez até seja por isso que todas as minhas tatuagens estão em locais que consigo manter reservadas dos olhares exteriores (se assim o desejar).

No ano passado o João decidiu oferecer-me uma tatuagem no meu aniversario e eu não podia ter ficado mais contente com este presente. Há muito que referia que precisava tatuar duas palavras (já tenho mais duas em mente que andam a martelar há algum tempo mas tudo a seu tempo) e que tinha encontrado a pessoa certa para o fazer pois havia-me apaixonado pelas suas letras elegantes e intemporais. Não sei em que momento me cruzei com a Sofia Dinis mas foi certamente através de uma pagina de instagram de alguém que sigo, a verdade é que nunca mais a “larguei” e a cada trabalho que via dela a certeza de que era a maquina dela a entrar-me na pele e a marcar-me para a vida ia crescendo.

Esperei… esperei meio ano para que o momento chegasse (a agenda da Sofia deve andar muito próxima da do Professor Marcelo Rebelo de Sousa) sem hesitações de qualquer espécie. Sabia o que tatuar e onde… e para mim é assim e só assim que faz sentido. No momento em que se hesita sobre uma tatuagem é porque não é o momento para a fazer.
No dia 3 o João tirou o dia para me acompanhar e lá rumámos nós ao estúdio (maravilhoso) da Sofia. À minha espera estava uma experiência única… única não só para mim/para nós mas também para a Sofia que viu a paz do seu estúdio invadido por duas pestes (que estavam impossíveis nesse dia), mas sobre a presença das duas criaturas que mudaram o nosso mundo num  estúdio que não admite crianças eu já conto tudo!

O trabalho atrasou-se, por um imprevisto com um dos tatuados do dia e como eu era a ultima, a minha hora passou… e em vez de irmos buscar os miúdos depois da mãe estar tatuada passou a ao pai ter de os ir buscar e levar para o estúdio. A Sofia não admite crianças no estúdio e parecendo uma medida extremista se pensarmos um bocadinho nisso acabamos por concordar: nenhum paciente leva um filho para uma intervenção cirúrgica, como é que uma mãe/pai que vai ser tatuada/o toma conta de uma criança se não tiver um apoio extra? Para mim faz sentido que ela tome esta atitude afinal de contas é um trabalho que ficará (aparentemente) para sempre na vida de quem é tatuado. Porém, este dia estava a ser atípico para ela, e como havia um pai que tomaria conta das pestes avançámos… FINALMENTE!

Para mim o natal estava a chegar naquele momento… ver as MINHAS palavras no MEU corpo é único e indescritível.

E o que é que eu tatuei?

Ora em primeiro lugar fiz uma tatuagem de homenagem aos meus filhos, a tatuagem que muita discussão deu no instagram @fioapavio: um ponto e virgula! Sim pessoas queridas o ponto e virgula representa o meu Pedro e o meu Francisco. E não, não está associada a nenhum movimento  Project Semicolon  nascido em 2013 nas redes sociais… lamento desapontar mas a nossa gramática é bem mais antiga do que este movimento e foi a pensar nela que fiz a minha opção. Passo a explicar o meu raciocínio: o ponto e a virgula são sinais de pontuação que possuem o seu significado individual, cada um vale por si e tem a sua importância na gramática porem quando se juntam dão origem a um novo sinal de pontuação e com um significado diferente. E é isto… é tão isto que desejo para os meus pequeninos. Que sejam individualidades únicas e com características diferentes mas que juntos tenham algo tao especial que até eu não me importo de ficar de fora. Que quando se juntem sejam especiais. Sendo eu uma apaixonada pela escrita e pelas palavras tinha de escolher para eles algo simples e intemporal, mas carregado de significado. E como já disse antes, esta será certamente a tatuagem mais pequena que o meu corpo terá mas será sem duvida a que tem maior significado (ela inclui os 3 amores da minha vida).

Depois duas palavras: gratidão e saudade.



A vida por mais partidas que nos pregue, por mais desafios que nos coloque e que achemos que tudo está errado e contra nós, também nos diz sabiamente “que tudo pode piorar”. Durante 2019 revoltei-me, queixei-me, lamuriei-me, questionei, desisti, lutei… mas tive sempre presente que tudo poderia piorar e por isso era preciso agradecer. Focar no que havia para agradecer e não no que aparentemente estaria errado. E por não me ser natural este ato de agradecimento, por ser um trabalho diário que pretendo não mais largar precisei de colocar na minha pele a palavra GRATIDÃO. Gratidão por ter uma família presente com saúde (independentemente dos pequenos/grandes contratempos), gratidão pelo trabalho que tenho e que escolhi. Gratidão pelas pessoas queridas que se cruzam no meu caminho e me fazem ser mais e melhor. Gratidão pelo tanto de bom que a vida me tem proporcionado e que muitas vezes tendo a não valorizar por ser uma pessoa naturalmente insatisfeita (não me orgulho disto mas hei-de terminar os meus dias a lutar por alterar algumas coisas). Gratidão!
A outra palavra é sem sombra de dúvida uma das que mais me define como pessoa: SAUDADE. Eu sou feita de saudade, corre-me livremente nas veias e de várias formas. A saudade que dói e corrói, a saudade que provoca suspiros e nos faz querer mais, a saudade do futuro/de coisas que sabemos não iremos viver, a saudade da ausência, a saudade da presença… saudade!


Eu sou feita de palavras. Eu gosto de palavras. Eu gosto de tatuar letras e assim será até sentir que tudo foi dito e escrito.

Que a tinta que penetrou na minha pele me dê o conforto que procuro e preciso.

Ao meu amor maior o meu obrigada por mais uma vez me proporcionar um momento único na minha vida. À Sofia (e ao Diogo) o meu muitíssimo obrigada pela forma como me/nos recebeu, pelas excepções à regra, pelo abraço, por todos os pingos de tinta que hoje trago no meu corpo e fica a certeza de que regressarei para mais (e uma menos atribulada experiência).
À Shantilly e à Sashimi por serem uns docinhos e fazerem as delicias dos pequeninos e finalmente ao Sr Alfredo que é um peluche com vida querido querido e que nos fez derreter e QUASE me fez soltar um “quero um”.

Sem comentários:

Enviar um comentário

design

design by: We Blog You