11/05/2018

9 MESES DE NÓS

Todos os dias são dias de descoberta. E eu descubro mais coisas sobre isto de ser mãe de dois pequeninos em cada momento que partilhamos do que qualquer livro que ousasse ler nesta fase. Porém mais curioso do que eu fazer esta descoberta é assistir à descoberta que cada um faz do outro. Aos 9 meses eles descobriram-se, eles olham-se, eles são cúmplices. Os 9 meses trouxeram a confirmação de que não só nasceram juntos como vivem juntos e irão crescer juntos. Trouxe as gargalhadas cúmplices, o roubar de chuchas constante (ainda que estas sejam diferentes desde o momento do nascimento por escolha própria), o observarem-se vezes sem conta, a procura constante pelo o outro quando um está ausente. Os 9 meses trouxeram a descoberta, que espero eu seja para o resto da vida deles (porque a minha espero que seja mais curta... infelizmente), do companheirismo, da partilha, de um amor de irmãos que eu desconhecia até aqui mas que já imagino. 

É verdade, assumo, eu tenho ciúmes dos meus filhos! Tenho ciúmes da possibilidade de existir um código entre eles que ninguém, nem mesmo nós pais, iremos decifrar. Sou filha única e não gosto. Não gosto do peso que acarreta ser única. Não ter ninguém a quem ligar às 3 da manha para desabafar ou simplesmente alguém para quem correr para dar aquele abraço sem palavras (sim tenho amigos que o fazem e sou imensamente grata por isso mas por certo não será o mesmo sentimento... digo eu que nunca o conseguirei comprovar). Dir-me-ão que não são assim todas as relações de irmãos (e eu tenho exemplos muito próximos que o comprovam) bem sei, mas é assim que antevejo a dos meus filhos e será por conquistar esse cenário que lutarei. A vida logo me irá compensar ou penalizar por isso.

Dentro de mim sempre houve o desejo escondido de ter mais do que um filho porém à medida que o tempo ia passando aprendi a gerir as expetativas e a desejar apenas o que a vida tivesse reservado para mim (até o pior dos cenários). Quando soube que estava gravida de gémeos, e mais do que pensar nas dificuldades que isso iria trazer para a nossa vida quotidiana (e que não seriam, não são, poucas) pensei que havia chegado o momento de viver de perto à construção de elos que eu até aqui desconhecia. Tao assustador quanto apaixonante. E com eles nasceram dois medos dentro de mim: estaria eu filha única à altura de tamanha tarefa e seria eu capaz de amar dois seres de igual forma? Se calhar muitos ficarão chocados com esta minha afirmação mas a verdade é que são raríssimos (issimos issimos issimos) os casos de pais que amam os filhos de igual forma (dos que conheço, e alguns demasiado próximos, não é isso acontece). Há uma clara vocação para um ou para outro. Como?? Como é que pode haver tamanha distinção? Tao descabida! Uma coisa é percebermos que aquele ser tem características mais semelhantes a nós e outra é ignorar um em detrimento de outro sem justificação aparente. Como é que se contam historias intermináveis sempre do mesmo filho ignorando por completo o outro? Como? 
Estes medos eu sei que me irão perseguir até ao ultimo dos meus dias e espero que estando ciente deles isso me ajude a combate-los.

Mas voltemos ao Francisco e ao Pedro. Têm sido 9 meses de descobertas constantes conforme já partilhei.

O Francisco continua, o físico, aquele que faz as festinhas mais docinhas e queridas. Continua a chorar sempre que a sua comidinha acaba, quer esta seja um iogurte com fruta, um biberão de leite ou um cozido à portuguesa (nada temam, ainda não lhe dei cozido mas temo que no final do primeiro prato iria querer repetir). Entretém-se com qualquer coisa: quer seja um brinquedo, um botão de roupa ou um fecho de um casaco. Tudo é bom para ele passear o seu dedinho indicador vezes sem conta até se cansar. Assusta-se com tudo pobrezinho, qualquer tosse, espirro, sacos plásticos, loiça a bater na cozinha é motivo para um pestanejar mais aflito. É o meu filho feito de mel e chocolate.

O Pedro é o filho destemido. Aquele que se atira de cabeça mesmo que depois seja preguiçoso para colocar as mãos para não se magoar... cai desamparado sem medo do resultado. Continua a esfregar-se em nós sempre que tem soninho. Tem o sorriso tridente (sim, porque já tem 3 dentinhos) mais querido mas apenas os dentinhos de baixo se fazem notar de forma mais nítida. Gosta que lhe falemos à bebezinho e tem cocegas no pescoço e nos pés. Bate palminhas não quando lhe mostramos como se faz mas sempre que terminamos... por  vezes fá-lo de madrugada quando os pais estão com a pestana meio cerrada. É o meu filho espelho, aquele que continua cada vez mais parecido comigo e com o meu pai. Aquele que tem um cabeleira farta e que faz a inveja do pai. É o nosso filho que luta contra o sono. Que se recusa a dormir sempre que chega a hora, aquele que exige mais dedicação nessa  tarefa. É o nosso filho herói, que está quase a ter alta da sua fisioterapia após 7 meses. O mais lutador perante as adversidades que o seu nascimento lhe trouxe.

Assim foram os 9 meses... que venham os 10 e os seus desafios: o primeiro de todos será a mudança para o quartinho deles e finalmente separem-se para dormir após tantos meses de partilha

2 comentários:

  1. Amiga,
    Mais um testemunho lindo e verdadeiro, um Amor pelos teus filhos sem preferências.
    Como me revi em tudo o que escreveste, mas acredita que as preferências existem (não devia de modo algum ser assim), mas é uma dor que ainda me acompanha e por muito que já tenha melhorado não passa. Dói, roi e marca.
    Por isto mesmo a minha decisão foi ficar pelo primeiro, tive MEDO, muito mesmo de alguma vez fazer a mesma asneira. Os filhos são para os amar-nos incondicionalmente e falar de modo IGUAL. Desculpa as lágrimas caem e já não consigo mais...
    Gostamo-Boa muito ❤❤❤❤

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  2. Eu sei que vai ser uma luta diária mas para a qual eu estou desperta e que eu quero levarei para a frente até ao meu ultimo suspiro. Um beijo gigante <3

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