25/01/2017

MEMÓRIAS DE UMA MÃE EM CONSTRUÇÃO #6



5 Dezembro 2015



Naquele momento iriamos perceber o que realmente tinha sido retirado de dentro de mim… e lá estava preto no branco “dois miomas”, apenas dois miomas foram retirados, apenas dois miomas foram enviados para análise. Esta era a prova de que nos havia sido ocultada informação. E porquê? Em momento algum eu ou o João contestámos qualquer decisão médica mas o que sempre dissemos é que preferíamos verdades cruéis a mentiras piedosas e quando a médica diz “correu tudo bem está tudo limpo” nós estávamos longe de imaginar que afinal dos três apenas dois miomas haviam sido retirados. Estávamos perante uma mentira piedosa… algo que sempre pedimos não ouvir desde o início e que nos faria desconfiar de tudo a partir dali. Olhámos um para o outro e decidimos que este era um capítulo fechado na nossa vida e que a consulta que acabáramos de ter era um novo episódio. 2016 estava à porta e era tempo de encher os pulmões de ar novo e o coração de boas energias.


2016 chegou e tanto eu como o João repetimos alguns exames a pedido do Dr. Vasco e marcámos nova consulta para Fevereiro. Nessa altura já teriam passado 3 meses depois da miomectomia, o corpo já tinha regenerado e a menstruação normalizado. Aparentemente já muito teria regressado à “normalidade”.


No meio deste processo eu precisava de renovar a minha fé, de me sentir plena de energia para começar o que imaginaríamos vir a ser um processo longo e doloroso. Num impulso enviei uma mensagem à Ana e perguntei-lhe “ este ano vão a Fátima a pé? Eu gostaria de ir…” … sem pensar mas com a certeza de que eu precisava disto. Precisava de me encontrar… de deitar cá para fora todos as dúvidas, todas as questões que me atormentavam e libertar o meu coração de desconfianças e maus pensamentos. Começou nesse dia a organização daquela que viria a ser a nossa caminhada de peregrinação de Abril.


Eu sabia que tinha uma costura com quase 20 centímetros recente, eu sabia que isso me iria limitar muito a preparação para a caminhada mas eu tinha uma certeza. Uma certeza única… o que o corpo não conseguisse a minha fé iria compensar. E acreditem que foi mesmo assim.


A consulta de 29 de Fevereiro chegou. A primeira coisa que mostrámos foi a análise morfológica e o Dr. Vasco, sempre dentro de uma conduta deontológica irrepreensível, confirmou aquilo que nós já sabíamos “apenas foram retirados dois miomas mas não há dramas porque isto não é um impedimento para uma possível gravidez uma vez que estes miomas desenvolvem-se para fora do útero. Ele apresenta a forma triangular sem aderências”. Mas o Dr. Vasco foi mais longe e disse logo que perante todos os documentos clínicos que tinha em sua posse não havia nada que lhe indicasse que não fosse possível engravidar. Que de facto a reserva de folículos era pequena mas ele sempre nos afirmou “só precisamos de um, apenas um para que tudo possa acontecer”. E foi neste momento que fomos confrontados com a primeira decisão importante para o nosso futuro: esperar que uma possível gravidez acontecesse fruto de medicação de estimulação ovárica, podendo passar 1 mês, 6 meses, 1 ano… ou dar um passo mais à frente e passar para uma FIV (fertilização in vitro). Tanto eu como o João sempre estivemos em sintonia neste processo e isso foi sem dúvida um dos fatores mais importantes para a sanidade mental de ambos. Ambos estávamos conscientes que o tempo não nos iria oferecer mais hipóteses, antes pelo contrário, ambos sabíamos (porque já tínhamos falado sobre isso) que avançar para a FIV significaria um esforço financeiro, um esforço mental e acima de tudo físico (mais da minha parte). E naquele momento os dois quase em sintonia dissemos “não queremos perder tempo e estamos dispostos a fazer o que Dr. achar ser o tratamento mais eficaz para nós”. A primeira grande decisão estava tomada, esta seria a ultima consulta na Cuf e a próxima já seria na AVA Clinic. Quase no final da consulta disse ao Dr. Vasco que gostaria de fazer uma peregrinação em Abril e se ele desaconselharia porque de alguma forma iria adiar os nossos tratamentos. O João aqui discordava de mim e por ele adiaríamos a peregrinação e não os tratamentos mas, e é aqui que nós distinguimos os médicos reais daqueles que apenas praticam medicina, disse logo “ vá Sara, se acha que precisa disso vá, não serão dois ou três meses que farão a diferença, até porque é preciso que o útero regenere na totalidade”. Mais uma vez percebi que este era o nosso médico, um homem da ciência que percebia que eu poderia ter essa necessidade e que isso poderia ser um factor importante para todo o percurso que estava à nossa frente.


O próximo encontro seria com a mãe de todas as mães. Seria uma caminhada para lamber as feridas, arrumar a cabeça e o coração e deixar que a fé preenchesse todas as fissuras que a dúvida e a dor haviam provocado.



(continua)

4 comentários:

  1. Princesa

    Vais no caminho certo, nós é que ficamos sempre há espera de mais.
    Mais ansiosa mas com a certeza que tudo vai ter um final bem feliz. Bjs

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    1. Sim o final está a ser feliz mas o caminho que tínhamos pela frente ainda estava cheio de desafios... beijinhos coloridos SSF

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  2. Mamã
    Sei que sim mas agora tens uma visão bem mais saborosa, dois pequeninos dentro de ti a gerar tanto mas tanto Amor.
    Continua.....

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