14/01/2017

MEMÓRIAS DE UMA MÃE EM CONSTRUÇÃO #3


Setembro 2015

Estava seguramente muito perto do meu limite. Todos à minha volta a dizerem que tinha de ter calma, que tudo ia correr bem, que não podia enervar-me assim pois ia fazer uma intervenção cirúrgica e que por muito que fosse algo "normal" envolvia sempre os riscos inerentes à mesma. No meu íntimo eu sabia que, graças a deus, não seria a falta de comparticipação por parte da seguradora que me faria não ser operada mas era todo este acumular de tensões, de conversas empurradas e adiadas, de incompetências que me eram totalmente alheias que mexiam com a minha vida. E o meu sogro numa cama de hospital... com prognostico reservado e difícil. Calma? Como é que se fazia isso?

Perdi a conta ao número de vezes que na véspera da operação ligámos para esta trilogia Banco (pois uma vez que o seguro havia sido feito através deles também os incubi de pressionarem a companhia de seguros/hospital/companhia de seguros. O resultado...nada. Nenhuma resposta.

Finalmente o dia da operação. Fomos para o hospital para ter as consultas com a anestesista e e fazer o eletrocardiograma. E espantem-se…  tinha a tensão elevadíssima. Porque seria? Que coisa estranha depois de terem tornado a minha num verdadeiro inferno nas últimas semanas era suposto a pessoa estar em modo calmo e tranquilo. Perante isto a anestesista optou por anestesia geral e que finalmente tinha alguém que me dava algum tipo de tranquilidade no meio do caos emocional em que me encontrava.

Fui para o piso dos internamentos e as rececionistas ao acederem ao computador olharam para nós com cara de pânico… “não têm ainda a aprovação da companhia de seguros”. Perante o nosso ar de “e novidades ??” (a esta altura já estávamos por tudo) lá deixaram sair a medo “vão ter de pagar a operação na integra agora”. Fazer o quê? Agradecer por esse não ser o nosso maior problema no momento (não houve um segundo em que me esquecesse que a poucos quilómetros dali o meu sogro estava numa cama de outro hospital). Pagámos e depois de tanta confusão e burocracia, aquele que é o meu porto seguro e um poço de paciência literalmente passou-se quando o telefone da companhia de seguros voltou a tocar no meu telefone para nos dizer que ainda não haviam liberado a operação.

Conseguem imaginar este cenário: eu a vestir-me para entrar no bloco, em 30 minutos, e o meu marido a chatear-se com a companhia de seguros que sabia que eu ia para o bloco às 15 e que me estava a ligar para dar uma notícia absolutamente ridícula, roçando a irresponsabilidade e que não era novidade para nós.

Naquele momento apenas consegui rezar… pedir que o meu coração não dificultasse uma operação que aparentemente seria fácil, que tudo corresse bem e que ao acordar tivesse a mesma visão daqueles olhos verdes a sorrirem para mim e que o meu sogro resistisse a mais uma provação.

Não vi nenhuma luz ao fundo do túnel (permitam-me o humor negro mas por vezes é a única forma de aligeirar as coisas) e quando acordei vi um homem sexy de toca na cabeça a pestanejar para mim… apaixonei-me de novo! Não me lembro do que dissemos (eu sou ótima a dizer parvoíces depois de uma anestesia geral… da ultima disse ao João que preferia fazer mil tatuagens do que ser operada, o que não deixa de ser verdade) mas lembro-me vagamente da médica dizer que tinha corrido tudo bem.

E para verem como a vida é irónica nesse mesmo dia recebi uma mensagem no telefone a dizer que a companhia de seguros havia autorizado a operação que já tinha acontecido. É melhor rir do que chorar perante algumas situações correto?



(continua)

2 comentários:

  1. Princesa,
    A tua determinação e de todos os que te rodeiam vale ouro.
    Sim tinhas de fazer a cirurgia porque estavas lá para isso e para seguires em frente.
    A vida é mesmo assim feita de decisões e com resultados positivos.

    (Continua)...mais que ansiosa!!!

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