11/09/2019

AMIZADE: QUANDO É QUE SE DEIXA DE SER AMIGO?



Amar é deixar ir.... e eu amo os meus amigos, já vê-los partir é outra historia e muito dolorosa para mim.

Acho que andei quase a vida toda ao contrário dos meus amigos. 

Quando todos viviam a sua adolescência na plenitude eu vivi um namoro de 8 anos. Quando todos começaram a casar, esse namoro terminou. Quando começaram a ter filhos, eu casei. Quando eu (finalmente) tive filhos veio o … "timings diferentes" (?!?!?!?) 

Nunca deixámos de ir a nenhum evento que envolvesse os meus sobrinhos de coração, nunca. Mesmo quando não tinha filhos amava passar tempo com os meus sobrinhos, nós sempre fomos os tios que se sentam no chão e brincam com eles, os que apareciam de mota e ouviam um "uauuuuu os tios vêm de mota". E que bons tempos se passam quando nos damos às crianças. Infelizmente não sinto que façam o mesmo com os meus (e é com o coração em sangue que o escrevo... finalmente). Não guardo rancor mas deixa-me muito triste. Profundamente triste. Ao longo dos últimos 3 anos fui recalcando e escondendo esta dor... foram muitas lágrimas escondidas, muitas palavras que calei e que transformei em lágrimas, mas chegou o momento de as materializar para curar.

Não acho que seja bonito da minha parte esperar retorno (nem me orgulho disso) mas a verdade é que esperava que nesta altura da nossa vida houvesse uma entrega maior a dois pequeninos que demoraram tanto tempo a chegar às nossas vidas. Mas o timing é outro… 

Em tempos os encontros eram perto de parques infantis para comodidade de todos, e nós lá estávamos. Presentes. Muitas vezes até éramos nós que sugiramos locais a pensar na comodidade de todos. Agora são... em outros sitios, como os restaurantes da moda, que realmente dão melhores fotografias para Instagram eu sei, mas onde logicamente não vou com dois pequeninos de dois anos.  Verdade seja dita que se procurarmos sítios giros para boas fotografias a nossa lisboa tem recantos maravilhosos, haja apenas vontade. Isto não seria grave para a amizade se existissem alternativas, ou seja, se existissem as duas coisas pois são tão diferentes que uma não impede a outra. Eu lancho todos os dias eu janto todos os dias logo eu posso sair com as minhas amigas à quarta e lanchar com o grupo todo num jardim ao sábado. Haja vontade ... mas falta o timing  (!?!?!)

Em tempos quando queríamos falar com alguém enviávamos mensagens ou ligávamos, agora ou pertencemos aos 23918 grupos de WhatsApp ou morremos para o grupo de amigos. E efectivamente eu cometi o suicídio quando saí há dois anos de todos os grupos dos quais fazia parte... não me fazia sentido estar estacionada em grupos onde as pessoas apenas ressuscitam quando o facebook as lembra que o "amigo" faz anos. Eu sou mais do que isso, eu preciso mais do que isso, eu acho que os "meus amigos" merecem mais do que isso. O tempo fugia-me por entre os dedos com bebes prematuros para cuidar e o telefone constantemente a apitar nao facilitava a sanidade mental, acho que muitos deles se esquecem que ganho a vida com as redes sociais e que o meu telefone apita todo o dia e a horas que nem vos conto... por vezes sabe bem um descanso do telefone e não, nunca, dos amigos 

E é que aqui que entra a grande questão. O que são os amigos? O dicionário diz:

a·mi·go
(latim amicus, -i)

adjectivo e substantivo masculino

1. Que ou quem sente amizade por ou está ligado por uma afeição recíproca a. = COMPANHEIROINIMIGO

"amigos", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/amigos [consultado em 02-06-2019].


"Afeição recíproca a." e este pedacinho de texto diz tudo… ora se nós é que sentimos falta e se do outro lado não há vontade de alterar o "timing" então essa relação não é reciproca e logicamente deixa de ser uma relação de amizade. 

Eu sou caranguejo e os meus afetos são para a vida toda. Gosto de gostar e para mim os amigos são para a vida toda. Mas na verdade não são. Não são mesmo. Há pessoas que temos deixar "cair" porque na realidade há muito tempo que já não estão lá. Há pessoas que apenas existem em nós e nós já não existimos nelas. Dói como o caraças mas os quarenta dão-nos a coragem necessária para remexer em coisas que magoam. E nesta fase da minha vida estou a abrir todas as gavetas que fechei ao longo dos últimos 3 anos. Estão abertas, a deixar sair o cheiro do mofo e a perceber se o que lá está dentro é para guardar ou para deixar ir...

Amar é deixar ir... volto a dizer dói como o caraças e já me valeu um rio inteiro de lágrimas das saudades que tenho da reciprocidade da amizade por parte de alguns mas... mas amar é deixar ir (vou escrever tantas vezes que isto finalmente se vai entranhar em mim) eu vou agarrar-me aos que preciso de ter mesmo perto de mim e deixar seguir os que passarão apenas a fazer parte da minha historia. Quero que esses "amigos" tenham de mim o melhor mesmo que já não o sintam: o meu respeito e a doce lembrança de que um dia fomos "realmente amigos".

Hoje, ao lerem estas minhas palavras, se gostam de alguém que não vêem há muito tempo... procurem essa pessoa e digam-lhe tenho saudades. Eu vou fazer o mesmo!

nota - sinto muita culpa por nestes 3 anos estar "mergulhada numa realidade paralela" numa bolha onde todo o meu tempo foi canalizado para os meus pequeninos e assumo que não fui de todo a melhor amiga... mas hoje consigo entender que os meus verdadeiros amigos serão os primeiros a entender isto... se não entenderem então não são realmente amigos. Espero ainda que entendam que quando se abre o coração como hoje faço se está receptivo a ouvir o outro lado... porque há sempre outro lado e eu não o ignoro apenas (em alguns casos) não o conheço porque não tiveram vontade de o partilhar comigo.

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