31/12/2017

NÃO TE VÃO LEVAR DE MIM

Ela tenta todos os dias roubar um pedaço de ti mas eu não deixo. Ela tenta contaminar todas as nossas recordações mas eu recuso-me a ceder. Ela vai adormecendo todas os momentos que vivemos juntos mas eu insisto em mante-los vivos. Ela não te vai roubar de mim avô. 

A memória é cruel avô. 

Hoje é aquele dia em que todos andam preocupados em fazer listas que não chegarão a cumprir, a fazer balanços cujos resultados irão ignorar e com eles nada aprender, a fazer compras de ultima hora para que os brilhos e a opulência não faltem no momento da festa... mas sabes avô... sabes porque choro tanto neste dia? Porque te imagino com os meus meninos nos braços, porque invento reações e sorrisos cúmplices entre vocês... são dois meninos avô!!!!! Dois machos como tu dirias (és de outra geração) finalmente dois meninos na família. Tu que sempre estiveste rodeado de mulheres, tu que perdeste o teu filho homem demasiado cedo... são dois homenzinhos avô e têm o teu nome! Tinham de ter avô. Tinham de ter porque eu não vou deixar que ela te leve de mim. Tu existes!! És meu enquanto eu conseguir criar estas memorias que são só minhas. Eu não te vou deixar ir. Não vou mesmo avô.

Tenho saudades tuas avô. Tenho tantas saudades nossas. E tenho saudades de todos os momentos que não irás viver com os teus bisnetos. Vocês iam gostar tanto uns dos outros mas tanto que a avó iria ficar cheia de ciúmes. 

A memória é cruel avô mas o meu amor ainda chega para preencher todos os cheiros que teimam em desvanecer-se, para sentir todos os sabores do nosso Alentejo que me deste a conhecer... fica aqui avô! 

Por favor!


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