17/01/2017

MEMÓRIAS DE UMA MÃE EM CONSTRUÇÃO #4


Setembro 2015

Como já havia referido anteriormente a operação correu bem, segundo a médica, e agora era tempo de recuperar para finalmente traçarmos os nossos planos. No meio desta confusão toda o meu sogro lá lutou como um guerreiro e saiu da situação complicada em que se encontrava e todas as coisas pareciam estar a conjugar-se para o sucesso.
Claro que uma recuperação minha tinha ainda de ter um revés e fiz alergia … ao penso. Bem dita hora em que o molhei no banho e em que foi necessário refaze-lo pois só nesse momento se deu conta. Podem não acreditar mas naquele momento custou-me mais a alergia (pois a pele veio toda agarrada ao penso) do que a própria cicatriz de quase 20 centímetros que agora habitava em mim.
Foram 3 dias de internamento rodeada de uma equipa maravilhosa de técnicos. Todos os elogios que poderei fazer sobre eles serão poucos. Agora era tempo de regressar à normalidade, recuperar bem para em Dezembro regressar à médica.
A recuperação da miomectomia é em tudo parecida com a da cesariana mas sem a parte boa de ter um bebe para cuidar. Parece que as entranhas nos vão sair pela cicatriz mas tudo é caminho e tudo se supera quando a nossa missão é muito maior.

Os dias passaram, o corpo regenerou-se e a cabeça apenas estava focada no futuro.

Dia 1 de Dezembro foi o dia de regressar ao gabinete da nossa médica. Íamos completamente descontraídos e ansiosos por saber o que tínhamos de fazer agora para alcançar o nosso sonho. Fiz uma ecografia vaginal para saber se estava tudo bem, manda-me vestir com a simpatia (not) habitual e (recordo-me deste momento como se tivesse acabado de acontecer) enquanto eu me vestia, ela escrevia no computador e verbalizava “está tudo bem, temos um mioma mas vamos vigiar, agora vamos fazer nova medicação…” Neste momento o João olhou para mim e foram segundos que nos pareceram anos, e perguntou “Mioma? Mas novo?”. Eu naquele momento congelei e apenas consegui colocar um riso nervoso que não mais largou dentro daquela sala. Ela ignorou a pergunta do João e continuou “alegremente” escondida atrás do ecrã a debitar frases que eu já não ouvia. Recordo-me do João ter perguntado de novo e de novo ter sido ignorado. Nós estávamos suspensos e precisávamos de ouvir a resposta àquela pergunta. Saímos do gabinete, pagámos e já não marcámos nova consulta… sem conversarmos ambos percebemos que não iriamos ali voltar tao depressa. Chegados ao elevador as lagrimas já me escorriam pelo rosto, o João já me interrogava porque razão eu não tinha dito nada à médica, porque razão me tinha calado. Eu não estava a viver aquele momento, nós os dois a discutir porque algo que nos era alheio mas que era determinante para a nossa vida enquanto casal. Não podia ser verdade. Saímos do Hospital para eu respirar, eu precisava de sair dali, de voltar a respirar… finalmente o João entendeu que eu tinha paralelizado e decidiu ele voltar atrás para confrontar a médica sobre o que nos tinha acontecido.
Não conseguir conter as lagrimas, só me apetecia gritar até que a voz se esgotasse e tudo saísse cá de dentro. Os segundos novamente pareciam horas… finalmente o João chegou e repetiu o que tinha acabado de ouvir “têm de entender que eu não podia mexer muito no útero se é para existir uma gravidez”. Como?? Mas não fomos nós que dissemos que estava tudo limpo, não fomos nós que detectamos 3 miomas e que decidimos retirar os 3. Não fomos nós que usámos a expressão “correu tudo bem retirámos tudo”. Porque razão nos era pedido agora e sem qualquer contextualização que aceitássemos que ainda existia um mioma por trás daquela cicatriz?
Foram horas terríveis, em que nos questionamos, em que achamos que se calhar tomámos as decisões erradas, em que pensamos que deveríamos ter pedido uma segunda opinião, uma terceira ou até quarta. Foi difícil olhar para o espelho e ver ali aquela cicatriz e pensar que poderia não ser a ultima…

(continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário

design

design by: We Blog You