01/11/2015

CEMITÉRIOS, OS MEUS LOCAIS DE PAZ

É estranho este sentimento que me assola quando visito cemitérios. Desde cedo, muito cedo, que lido com a dualidade de me transmitirem paz e dor, de me apaziguarem e me desorganizarem,... é assim que sou desde pequenina.
Devo ser das pessoas que pior lida com a perda, não aprendi nos livros, não aprendi com os meus pais, não aprendi com a vida... simplesmente é uma lição que não consigo memorizar, que não consigo aprender, que não quero aceitar!
Tenho memorias vagas da primeira vez que visitei um... porem recordo-me muito bem do momento em que vi este espaço como um confessionário, uma espécie de local de conversa com quem partiu prematuramente. 
A morte do meu tio foi demasiado chocante e inesperada (questiono-me hoje se todas as mortes não o serão aos olhos de quem ama) e sem tempo para despedidas, na impossibilidade de uma ultima conversa foi ali... à frente de um monte de terra e flores que encontrei o inicio da paz para a minha dor (sim o inicio porque passados mais de vinte anos eu acho que ainda tenho um longo percurso para atingir a cura). Voltei uma, duas, três, muitas vezes, e o monte de terra passou a mármore. E eu de adolescente passei a adulta. As visitas ao cemitério nunca me foram impostas... sempre foram uma necessidade! Verão, inverno, as estações nunca foram importantes, nem a distancia que liga Lisboa ao Alentejo... o ir sim! 
Depois veio a entrada da faculdade, a arquitectura e o desejo de um dia desenhar um cemitério. Um que me enchesse as medidas, que ajudasse quem precisa de ali estar, que apaziguasse os corações... este deve ser o meu desejo mais profundo no que diz respeito à minha profissão e que ainda está por concretizar. Um dia...
Mais tarde outra partida difícil...  e a certeza de que seria eu a arquitecta da sua ultima morada. Era a derradeira homenagem que poderia fazer. Mórbido para uns imperioso para mim. E assim foi, desenhei a campa do meu avô, escolhi cada pedra, cada ângulo que a pedra de granito preto deveria fazer, cada letra que deveria ser escrita para a imortalidade ... é assim que me curo. Eu preciso de factos, de apalpar, do confronto com a dor, de ir e ver que é ali que estão os meus (ainda que sinta que ali apenas está o corpo).
Por tudo isto todos os fins de semana do meu passado, como este, nunca foram preenchidos com bruxas e fantasmas mas sim com mais uma dia ao cemitério no dia de todos os santos. Por imposição? Nunca! Por necessidade? Sim!

2 comentários:

  1. Confesso que não lido bem com a morte. Não compreendo, não quero compreender, dá-me medo, mas sem dúvida que um cemitério é aquela dualidade paz/medo, nem sei bem explicar. Mas consigo entender o que descreve. Beijinhos grandes***

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    Respostas
    1. É difícil colocar em palavras... muitos beijinhos Joana <3

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