25/05/2015

NÃO SEI CORRER COM AS PERNAS

Confesso que de todas as corridas (pouquinhas) em que participei esta era a que mais temia, não pela distancia, não pelas condições atmosféricas que estariam mas pelas emoções que me provoca desde sempre. Dias antes da corrida já andava a imaginar as dificuldades que ia ter em gerir emoções, em controlar a respiração quando só me apetecia chorar cada vez que pensava, em controlar a ansiedade. Estava consciente de que não me tinha preparado correctamente para correr 5 quilómetros sob um sol escaldante, estava consciente que os últimos dias e as ultimas noticias me iriam prejudicar, que o facto de estar a sofrer de TPM me iria provocar imensas dores adicionais. Mas nada me iria impedir de estar ali. A andar, a correr, a arrastar-me, não importava, porque era ali que eu queria estar naquele dia àquela hora.
Cheguei cedo e rapidamente percebi que estava envolvida numa actividade para a qual não tinha vontade alguma de participar: as primeiras pessoas a chegar iriam receber balões e formar um coração vermelho que seria visível dos céus. Ora eu, sozinha, depois de ter sido empurrada, não recebi balão mas quando dei por mim era um ponto negro no meio deste coração (sim porque a maioria das mulheres estava de chapéu rosa claro, oferta, e eu tinha o meu preto). Confesso que não estava preparada psicologicamente para o que ia ouvir naquelas quase 2 horas de espera: "oh senhor deixe-me passar que eu quero ver o Toy. Nós somos vizinhos deixe lá"; "eu queria mesmo era ouvir a michaela isso é que era bom"; "ainda se fosse um gajo bom agora este gordo com a mania que sabe dançar", ... colocaram 15000 mulheres juntinhas, muito juntinhas e depois anunciaram que se iria fazer um aquecimento com quê? Com dois instrutores de zumba que completamente alienados da realidade que se estava a passar lá em baixo, em que não tínhamos 1 cm para nos mexermos, insistiam em passos e saltos como se tivéssemos o meo arena todo por nossa conta. Ao meu lado uma senhora que podia ser minha avó queixava-se dos encontrões, eu olhei para tras e pedi desculpa se de alguma forma a tinha magoado e de lá veio o gesto que me fazia falta,,. ali. Com a sua mão e sem me conhecer de lado alguma pegou no meu braço e fez-me a festinha que eu precisava e disse-me "oh minha filha não foste tu, estás aí toda sossegadinha com os teus pensamentos... e estava mesmo! E foi aqui que se fez o clique: no meio daquelas 15000 mulheres havia historias de dor, de luta, de resiliência, de vitorias, de conquistas e eu... eu também irei ganhar a minha batalha. Eu também quero pertencer àquele grupo das lutadoras e sobreviventes. E a partir daquele momento até o Toy já me parecia menos mau.

A partida soou e após arrumar as emoções iniciais era tempo de fazer um plano para os 5 kms que se avizinhavam. Não ia correr mas queria ir rápido, queria andar o mais rápido que me era permitido tento em conta o calor e as emoções... queria fugir. E encontrei a lebre perfeita para a minha corrida a Naide Gomes, gravida e com uma preparação física invejável foi o meu ponto motivador... fui sempre atrás dela, sempre focada naquela gazela que dava 1 passo e me obrigada a dar 3... e lá fui eu. Rezei. No final estava a sentir-me bem e pensei vou correr o ultimo km, devagar, mas vou correr. Mal comecei a ver os insufláveis que antecipam a meta senti um arrepio que já conheço e pensei que era ali que me iria desmanchar em lágrimas.... mas não! Controlei-me... corri. Passei aquela que achava ser a meta quando percebi que ainda havia mais... mais uns metros e vi-o. O meu porto seguro. A minha bolhinha de oxigénio à minha espera do outro lado da meta. Cheguei ao fim. Terminara e sentia-me bem. Muito bem!

Durante esta corrida percebi que em momentos de duvida, em que começo a questionar as minhas capacidades é importante responder a esta pergunta: onde estavas o ano passado nesta altura? E a resposta é óbvia: era mais gorda, estava a ver a corrida pela televisão e com o desejo de estar lá fisicamente e falsamente saudável. Neste momento o meu corpo está doente mas a minha cabeça e o meu coração nunca estiveram tão saudáveis. De facto eu ainda não sei correr com as pernas. Corro pelas causas, corro pelo que me emociona, corro pelas emoções. Corro com coração mas já não existem desculpas que me impeçam de ir, não fico em casa e para mim era importante dar este passo... mesmo que isso implicasse ir (falsamente) sozinha. No momento de cruzar a meta recordei todas as pessoas que me têm apoiado nesta mudança lenta e para a vida. E sou grata. Muito grata.

Este era um mural onde estavam inscritos os nomes de todas as participantes... cheio de significado! 46 minutos e 3 segundos é o tempo a bater para o ano!

Eu já tinha terminado a minha corrida há cerca de 20 minutos (já estava a atravessar nesta passagem aérea) e era este o cenário que ainda se via... a mancha rosa estende-se até à linha do horizonte. Impossível ficar indiferente.

2 comentários:

  1. O que não nos mata torna-nos mais fortes <3

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    1. Sem duvida... nunca essa frase fez tanto sentido na minha vida como agora! Beijinhos coloridos

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