14/07/2014

O AMOLADOR DE FACAS E AS BOLAS DE BERLIM

Há muitos anos atrás, teria eu os meus 4 ou 5 anos, sempre que ouvia o amolador de facas nas traseiras da minha casa, era invadida por uma enorme nostalgia. Não teria idade para saber sequer o significado da palavra mas a verdade é que ficava sempre melancólica e triste. Tinha pena e admiração por aquele senhor que contra sol e chuva lá estava. Bem em baixo (já que os meus pais sempre moraram num quinto andar), a tocar a sua gaita de beiços, sozinho com os seus chapéus estropiados e facas de cortar manteiga. Eu ficava triste pois ninguém ia à janela dar-lhe atenção como eu. Pedi varias vezes à minha mãe moedas para lhe dar e a minha mãe lá me explicava que o senhor não estava a pedir, que era aquela a profissão dele e que era pago pelos serviços que prestava. Aquilo nunca me convenceu. E cheguei a ir ao mealheiro atirar-lhe moedas. Ele nunca me viu pois eu rapidamente me escondia. Nem sei se alguma vez ele as chegou a ver pois a minha pontaria naquela idade não deveria ser a melhor.
No outro dia estava eu na praia, quando ouvi ao longe: Bola de berlimmmmmmmmmmmmm!! O sentimento foi imediato (uma pessoa em dieta privada de doces também fica mais sensível com estes assuntos é verdade) e o mesmíssimo: a praia está vazia, tem uns acessos péssimos e este senhor anda carregadíssimo a vender sob este sol abrasador. Nem sequer paga o gasóleo que chegou para chegar a esta praia isolada... e perdida nestes meus pensamentos chamei-o. Sem hesitar. Comi a bola e confesso-vos soube-me a nostalgia. Soube-me a infância mais do que a ovos, farinha e açucar.





Sem comentários:

Enviar um comentário

design

design by: We Blog You