Foi num dia como este em que
partiste. Quatro anos já passaram e eu perdi a conta das vezes em que me
lembrei de ti.
É mais fácil não pensar no tempo.
Não pensar nos dias em que já não te tenho. Não pensar no tanto que teríamos para
partilhar. Não pensar no quanto gostaria de te mostrar esta minha nova vida,
esta minha nova forma de viver, feliz.
Aos teus olhos eu nunca cresci.
Fui sempre a primeira das primeiras. Aquela a quem davas as mãos para ir à
leitaria da esquina, aquela a quem compravas os bolos enroladinhos (sem gila)
que eu desenrolava pacientemente enquanto comia, aquela a quem ensinaste a
bordar, a quem fizeste vestidinhos delicados para as bonecas mesmo com as tuas mãos
engrossadas pelo trabalho do campo. Aos
teus olhos eu não teria namorados, eu não falaria de coisas de mulheres, eu
seria sempre a tua pequenina. Aquela a quem fazias fatias douradas ao pequeno
almoço, a quem permitias que colocasse as mãos no mesmo alguidar onde tu
amassavas o pão, a quem fizeste pãezinhos pequeninos para as bonecas, a quem
ajudaste a fazer folares com amêndoas de chocolate. Aos teus olhos eu não tinha
permissão para crescer.
Mas um dia eu gritei-te. Eu tinha
de te gritar. Eu estava a crescer e a ouvir coisas que o meu coração já não conseguia
calar. Eu gritei e tu não estavas preparada para o meu grito. Ficaste triste
comigo. Eu fiquei triste contigo. Encontraste no teu coração uma forma de calar
o meu grito mas eu… eu ainda me oiço. Eu ainda sinto a força das palavras que
te disse. Não me arrependo pois o que ouvi parecia vidros a cortarem-me a alma
mas… doi. Doi ter sentido a necessidade de te gritar.
Aos teus olhos eu continuava sem
crescer mas já não era a primeira. Nem segunda… ficara para o fim. E
habituei-me a isso. Agarrei-me a tudo o que estavas disposta a dar-me. E
guardei para mim. Guardo para mim. Tentando que a mágoa de não te ter por perto
não abafe os nossos momentos.
Hoje são os meus olhos que te
olham com saudade e com o desejo de que também tu não tivesses crescido. Que te
mantivesses nova, com saúde, com alegria de viver, com a garra que sempre
tiveste perante a maior perda que uma mãe poderá sentir (a perda de um filho).
Gostava tanto que não tivesses
crescido. Que a idade e o desgosto não tivesse tomado conta do teu corpo e te
roubasse de mim.
Foi num dia como este em que
partiste e eu não me conformo.
Uma lágrima correu no meu rosto... o teu sentimento é o meu quando penso no meu velhinho de olhos azuis que partiu não conhecendo o último dos seus bisnetos... não vendo a boa mãe que me tornei... a saudade é tramada... e a última imagem que tenho são os seus olhos azuis e o seu sorriso inigualável que fez de mim uma menina, uma jovem e uma adulta feliz!. Um beijo amiga Sara
ResponderEliminarMinha querida amiga... tambem eu me lembro do teu velhinho de olhos azuis. Docinho como só ele sabia ser, sempre com um sorriso e uma piada para nos contagiar. A saudade é tramada mas eles existirão sempre em nós. São a nossa maior herança. Beijo enorme para voces <3
Eliminartexto maravilhoso, escrita magnifica.
ResponderEliminarObrigada Cláudia... há palavras que demoramos a escrever porque nos magoam porém são também essas palavras que têm poder curativo. Este foi escrito com com muito amor e saudade.
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