17/09/2019

UMA MULHER FELIZ QUE VIVE MOMENTOS DE PROFUNDA (IN)FELICIDADE



Uma mulher pode ser feliz e viver momentos de profunda infelicidade? Sim pode! Eu falo na primeira pessoa sobre isso.
Ser mãe é o sonho que vivo diariamente. É o que me faz ser imensamente grata, é o que me faz respirar fundo e agradecer tudo o que tenho, é o que me mantém em pé quando o cansaço se apodera do meu corpo (mas acima de tudo da minha cabeça). É tudo o que desejei e mais mas... sim esta historia tem um mas, não têm quase todas? Um enormíssimo mas! Ao longo destes dois últimos anos vivi momentos de grande desespero, de uma solidão atroz, de uma infelicidade inqualificável. Não controlar as coisas à minha volta, não ter as minhas rotinas (ou algumas vá), viver cada dia numa realidade que não conhecia, viver de novo com a minha mãe, dividir o meu amor que era apenas de dois homens (marido e pai) por mais dois, ser responsável por dois seres completamente dependentes, viver sem conseguir gritar, viver sem conseguir verbalizar que se precisa de ajuda, pedir-se ajuda e virarem-nos as costas, pedir ajuda e ignorarem o nosso pedido, ouvir milhentas vezes que vai passar (aquele conselho que não serve rigorosamente para nada alem de aliviar a culpa de quem o diz), ouvir "comigo foi assim, comigo foi desta maneira, não me digas que não consegues, não me digas que não fazes, precisas sair, precisas do teu tempo."

NÃO!!!!!!!!! 

CHEGA!!!!!

E chegarem cá a casa e dizerem "Vai... vai já! Estou aqui por ti. Vai!" Estamos aqui vão... sejam casal de novo! Vão que nós estamos aqui por vocês... não para vos substituir mas para vos aliviar. 

Pois! Não aconteceu.

Os meus filhos são a minha melhor parte mas deram-me a conhecer o pior de mim. Bati de novo no fundo com todos em festa à minha volta. Todos a verem o cor de rosa da historia de dois quarentões que tiveram gémeos meninos. Todos a aplaudirem o esforço mas sem pegarem no fardo por 5 minutos que fosse. Valeram-nos os de sempre - os que me deram a vida. Os que mais uma vez me devolveram a vida e me ajudam a vive-la. Os únicos que realmente pegaram neste enormíssimo fardo e mesmo com as suas limitações o fizeram sem pensar nas maleitas que lhes causariam.

Sim eu sou uma mulher feliz mas vivi momentos de plena infelicidade nos últimos meses. Questionei o que nunca imaginei questionar e que guardarei para mim. Chorei e gritei em silencio um desespero que não consigo (ainda) colocar em palavras. 

Nesta felicidade infeliz valeram-me os meus. Os que estão sem que eu os chame, os que não ficam à espera de um convite para se sentarem à mesa, os que se achando virtuais se revelaram mais reais que os outros, os que eu não conhecia e que se deram a conhecer ao longos destes longos meses, os que criaram situações para nos incluir. Valeram-me os meus pequeninos que serão sempre o meu tudo até mesmo quando começarem a limpar os beijos que lhes irei dar, ou a envergonhar-se sempre que me ouvirem falar deles com um orgulho incomensurável. Valeu-me o amor e a fé. O acreditar que tudo iria ficar bem. O acreditar que tudo seria pior sem esta fé que cresceu nos últimos anos em mim. O acreditar que há sempre mais a agradecer do que a lamentar. O ter a certeza de que um dia eu iria encontrar o equilíbrio... eu sei que ele está por aí à espera que eu o encontre e viva. A fé que me faz ser grata, que me faz agradecer diariamente todas as bênçãos que tenho, que me faz afirmar "valeu a pena, vai sempre valer a pena".

Eu sou apenas mais uma. Sou apenas mais uma mulher mãe feliz que vive(u) momentos de (in)felicidade.

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