07/01/2014

O MEU PAI CHOROU MAS... EU TAMBÉM!

O dia de ontem foi cheio de emoções. Emoções que eu não sabia nutrir por tal pessoa. Afinal não foi apenas o meu pai que chorou. Eu também chorei. Muito.
Perante este facto dei por mim a pensar: Porquê? Porque razão aquele homem, um desportista, um homem do futebol, conseguiu tamanha unanimidade? Juntos, lado a lado, homens de clubes rivais, jogadores que se ofendem dentro das quatro linhas, pessoas que não eram nascidas quando ele jogava à bola, políticos que esqueceram as divergências e se sentaram naqueles bancos de madeira para homenagear o homem - aquele homem!
Vasculhei no meu passado e encontrei o exemplo pessoal que me faltava para perceber este fenómeno. E encontrei.
Corria o ano de 1999 quando a minha turma de quinto ano de faculdade decidiu fazer uma visita a Praga - a capital checa. O meu pai, sempre o meu pai, disse-me em tom de brincadeira na hora da partida: "não te esqueças que o Poborsky é checo e joga no Benfica, pode ser útil". Escusado será dizer que olhei para o meu pai com ar de gozo e pensei o quanto disparatada era aquela informação para quem ia viajar.
Chegámos a Praga de guia turístico em punho e num dos 7 dias em que lá estivemos decidimos ir visitar uma das mais belas bibliotecas do mundo - a Biblioteca Klementium ou Nacional de Praga. Uma biblioteca que não estava aberta o ano todo pois estava a ser alvo de obras de beneficiação e como seria de esperar batemos com o nariz na porta. Fomos confrontados com um segurança/porteiro que nos disse que a biblioteca se encontrava fechada. Uns ficaram conformados, outros indignados pela falta de informação e eu, bem eu como filha do meu pai, tive a tirada do dia: "Então nós viemos de Portugal de propósito e não conseguimos ver a Biblioteca?". Mal acabo de dizer isto o senhor, que até este momento parecia um boneco de cera muito zangado com a vida, abriu a boca  e no seu inglês/checo disse: "Portugal? Benfica? Eusébio!!". Eu gritei logo "Simmmmmmmmmmm". E não é que entrámos? Dois a dois lá nos deixou entrar por dois ou três minutos.
Este foi o meu momento Eusébio. 
Não foi o tal jogador checo que o meu pai mencionou que nos abriu as portas da Biblioteca Nacional de Praga. Não! O nome de código era tão somente este: Portugal/Benfica/Eusébio.
Se calhar é desta dimensão que se fazem os ídolos, se calhar é disto que falamos quando nos referimos a pessoas imortais. Eu ainda tenho as minhas duvidas mas confesso-vos que passei a ouvir os conselhos do meu pai com mais atenção.

Ontem o meu pai chorou mas... eu também!



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