28/12/2018

"112 ?!?! DEIXEI CAIR O MEU FILHO!"


Não me recordo do dia. Não me recordo do mês. Nem mesmo me recordo do ano.
Recordo-me que eram pequeninos, que era um sábado de sol e que como era habito estávamos sozinhos os três. O João estava a dar aulas de skate no parque das gerações e para mim era mais uma manha normal partilhada com os meus amores pequeninos.
Estava sentada no sofá a abanar as babybjorn com os pés como sempre fazia, as duas de frente para mim e ao lado as duas cadeiras da papa. Pareceu-me sentir que um tinha a fralda suja. Arrisquei o Pedro. Desabotoei a babybjorn e agarrei-o com as duas mãos. 
Levanto-me e … o meu mundo parou ali.

Tropecei...

Senti-o fugir-me por entre os dedos...

A sua cabeça em direção ao chão, entre a babybjorn e a cadeira da papa …

(por mais anos que viva não sei como me segurei, como não me embrulhei toda no chão, como superei tudo) agarrei-o pelo pano do babygrow na zona do rabo…

Senti o seu peso a fazer mola. Vi o seu corpo pequenino balançar para cima e para baixo.

Puxei-o para mim e abracei-o como que para juntar todas as pecinhas que se pudessem ter soltado. Ele chorou. Eu chorei. Chorámos os dois de forma descompensada. Eu porque a minha vida estava em suspenso naqueles momentos, Ele possivelmente assustado com tudo.

O Francisco silencioso.

Gelei de medo. Gelei de pânico. Uma parte de mim tinha caído (????) será que tinha? Será que tinha batido realmente? será que o segurei a tempo?

Fiz o que não se deve fazer (aprendam por favor) liguei ao João (na duvida seria para o 112 e logo pois todos os segundos contam)… ele disse que vinha já a caminho para eu ter calma mas eu acho que nem ouvi.

Desliguei e as duvidas não me deixavam respirar. Fiz a chamada que nunca pensei fazer na minha vida : "112 ?!?! DEIXEI CAIR O MEU FILHO!". Tentei que as lagrimas me deixassem responder a tudo de forma percetível. Em 15 minutos tinha uma ambulância à porta e dois bombeiros na nossa sala. O Pedro já não chorava (já eu não fazia outra coisa e a sua imagem a cair de cabeça a rodopiar à frente dos meus olhos). Examinaram-no e rapidamente concluíram que ele não tinha nada, que dificilmente teria batido em algum lado pois não tinha nem uma mancha, um arranhão nada de nada. 

O João chegou. Decidimos que dava leitinho aos dois e iriamos ao hospital de cascais para termos mesmo a certeza de que ele estava bem. O pedro bebeu o leite, o Francisco bebeu o leite e lá fomos nós na ambulância. Mãe aflita e filho saciado. O João ficou com o Francisco e ia la ter mais tarde.

Na ambulância agarrada a metade de mim a rezar, sem o deixar dormir, a imagem dele a cair de cabeça não parava de rodar na minha cabeça.

Entramos rapidamente e fomos imediatamente vistos por uma medica… nada. O Pedro aparentemente não tinha nada. Íamos deixa-lo dormir ao meu colo e esperar que ele acordasse para ver a reação dele.

O joao e o Francisco (mínimo) na sala de espera,

Eu sentada num cadeirão, com metade do meu coração no colo. De rompante entre uma mae com uma pequenina muito loirinha a vomitar sangue, médicos e enfermeiras a correr, e eu num egoísmo profundo agradeci o meu filho estar bem. Rezei por ele e por aquele pequenino raio de sol que estava a sofrer.

Acordou. Bem disposto. Risonho. Abracei-o, aconcheguei-o, afaguei-o… quase o engoli.

"Tudo normal mãe, foi apenas um susto e de certeza que não o deixou bater em lado algum! Porem vigiem-no nas próximas 24 horas" . Não bateu??? mas eu deixei-o cair. EU!!!!

E se??? e se??? 

Mas e se…

O João obrigou-me a deitar fora todas as recordações desse dia e pediu-me para fazer de tudo para esquecer este episodio. Pediu-me para não escrever sobre isto pois sabia que me ia doer mais e mais.

Não consegui, (Desculpa amor mas não consigo curar o que não verbalizo/escrevo)

Não me recordo do dia. Não me recordo do mês. Nem mesmo me recordo do ano. Mas irei recordar para toda a vida o dia em que saído dos meus braços vi o meu filho Pedro mergulhar no vazio

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