Escrever na pele é algo recente
na minha vida. Foi em 2009 que eu e o João decidimos tatuar a nossa frase, como
uma espécie de aliança que apenas chegaria, sob a forma de objecto, em 2010.
Depois dessa veio logo outra que
se tornaria a minha cabula diária… aquela a que recorro de forma constante
sempre que o pensamento me foge para o negativismo.
Não tatuo por modas ou estímulos exteriores,
faço-o sim por necessidade. Porque gosto de ver na pele o que muitas vezes a voz
não grita, ou o que tendo a esquecer no dia a dia. Tatuo porque preciso, porque
me sinto mais plena ao faze-lo. Não o faço para os outros, faço-o por e para
mim e talvez até seja por isso que todas as minhas tatuagens estão em locais que
consigo manter reservadas dos olhares exteriores (se assim o desejar).
No ano passado o João decidiu oferecer-me
uma tatuagem no meu aniversario e eu não podia ter ficado mais contente com
este presente. Há muito que referia que precisava tatuar duas palavras (já tenho
mais duas em mente que andam a martelar há algum tempo mas tudo a seu tempo) e
que tinha encontrado a pessoa certa para o fazer pois havia-me apaixonado pelas
suas letras elegantes e intemporais. Não sei em que momento me cruzei com a
Sofia Dinis mas foi certamente através de uma pagina de instagram de alguém que
sigo, a verdade é que nunca mais a “larguei” e a cada trabalho que via dela a
certeza de que era a maquina dela a entrar-me na pele e a marcar-me para a vida
ia crescendo.
Esperei… esperei meio ano para
que o momento chegasse (a agenda da Sofia deve andar muito próxima da do Professor
Marcelo Rebelo de Sousa) sem hesitações de qualquer espécie. Sabia o que tatuar
e onde… e para mim é assim e só assim que faz sentido. No momento em que se hesita
sobre uma tatuagem é porque não é o momento para a fazer.
No dia 3 o João tirou o dia para
me acompanhar e lá rumámos nós ao estúdio (maravilhoso) da Sofia. À minha
espera estava uma experiência única… única não só para mim/para nós mas também
para a Sofia que viu a paz do seu estúdio invadido por duas pestes (que estavam
impossíveis nesse dia), mas sobre a presença das duas criaturas que mudaram o
nosso mundo num estúdio que não admite
crianças eu já conto tudo!
O trabalho atrasou-se, por um
imprevisto com um dos tatuados do dia e como eu era a ultima, a minha hora passou…
e em vez de irmos buscar os miúdos depois da mãe estar tatuada passou a ao pai
ter de os ir buscar e levar para o estúdio. A Sofia não admite crianças no estúdio
e parecendo uma medida extremista se pensarmos um bocadinho nisso acabamos por
concordar: nenhum paciente leva um filho para uma intervenção cirúrgica, como é
que uma mãe/pai que vai ser tatuada/o toma conta de uma criança se não tiver um
apoio extra? Para mim faz sentido que ela tome esta atitude afinal de contas é
um trabalho que ficará (aparentemente) para sempre na vida de quem é tatuado.
Porém, este dia estava a ser atípico para ela, e como havia um pai que tomaria
conta das pestes avançámos… FINALMENTE!
Para mim o natal estava a chegar
naquele momento… ver as MINHAS palavras no MEU corpo é único e indescritível.
E o que é que eu tatuei?
Ora em primeiro lugar fiz uma
tatuagem de homenagem aos meus filhos, a tatuagem que muita discussão deu no instagram
@fioapavio: um ponto e virgula! Sim pessoas queridas o ponto e virgula
representa o meu Pedro e o meu Francisco. E não, não está associada a nenhum movimento
Project
Semicolon nascido em 2013 nas redes sociais… lamento
desapontar mas a nossa gramática é bem mais antiga do que este movimento e foi
a pensar nela que fiz a minha opção. Passo a explicar o meu raciocínio: o ponto
e a virgula são sinais de pontuação que possuem o seu significado individual,
cada um vale por si e tem a sua importância na gramática porem quando se juntam
dão origem a um novo sinal de pontuação e com um significado diferente. E é
isto… é tão isto que desejo para os meus pequeninos. Que sejam individualidades
únicas e com características diferentes mas que juntos tenham algo tao especial
que até eu não me importo de ficar de fora. Que quando se juntem sejam
especiais. Sendo eu uma apaixonada pela escrita e pelas palavras tinha de
escolher para eles algo simples e intemporal, mas carregado de significado. E
como já disse antes, esta será certamente a tatuagem mais pequena que o meu
corpo terá mas será sem duvida a que tem maior significado (ela inclui os 3 amores
da minha vida).
Depois duas palavras: gratidão e
saudade.

A vida por mais partidas que nos
pregue, por mais desafios que nos coloque e que achemos que tudo está errado e
contra nós, também nos diz sabiamente “que tudo pode piorar”. Durante 2019
revoltei-me, queixei-me, lamuriei-me, questionei, desisti, lutei… mas tive
sempre presente que tudo poderia piorar e por isso era preciso agradecer. Focar
no que havia para agradecer e não no que aparentemente estaria errado. E por não
me ser natural este ato de agradecimento, por ser um trabalho diário que
pretendo não mais largar precisei de colocar na minha pele a palavra GRATIDÃO.
Gratidão por ter uma família presente com saúde (independentemente dos pequenos/grandes
contratempos), gratidão pelo trabalho que tenho e que escolhi. Gratidão pelas
pessoas queridas que se cruzam no meu caminho e me fazem ser mais e melhor. Gratidão
pelo tanto de bom que a vida me tem proporcionado e que muitas vezes tendo a não
valorizar por ser uma pessoa naturalmente insatisfeita (não me orgulho disto
mas hei-de terminar os meus dias a lutar por alterar algumas coisas). Gratidão!
A outra palavra é sem sombra de dúvida
uma das que mais me define como pessoa: SAUDADE. Eu sou feita de saudade, corre-me
livremente nas veias e de várias formas. A saudade que dói e corrói, a saudade
que provoca suspiros e nos faz querer mais, a saudade do futuro/de coisas que
sabemos não iremos viver, a saudade da ausência, a saudade da presença…
saudade!
Eu sou feita de palavras. Eu
gosto de palavras. Eu gosto de tatuar letras e assim será até sentir que tudo foi
dito e escrito.
Que a tinta que penetrou na minha
pele me dê o conforto que procuro e preciso.
Ao meu amor maior o meu obrigada
por mais uma vez me proporcionar um momento único na minha vida. À Sofia (e ao
Diogo) o meu muitíssimo obrigada pela forma como me/nos recebeu, pelas excepções
à regra, pelo abraço, por todos os pingos de tinta que hoje trago no meu corpo
e fica a certeza de que regressarei para mais (e uma menos atribulada experiência).
À Shantilly e à Sashimi por serem
uns docinhos e fazerem as delicias dos pequeninos e finalmente ao Sr Alfredo
que é um peluche com vida querido querido e que nos fez derreter e QUASE me fez
soltar um “quero um”.