Confesso que há muito tempo que não tinha tanta (mas mesmo muita) vontade de ver um filme português. E pelos vistos não era a única pois São Jorge, o filme de Marco Martins que deu a Nuno Lopes o prémio de interpretação na secção Horizontes do Festival de Veneza, é já a melhor estreia do ano de cinema português. Este filme conta a história de Jorge, um pugilista, desempregado, que aceita trabalhar numa empresa de cobranças difíceis para pagar as suas próprias dívidas e para tentar que a mulher e o filho não emigrem.
Jorge luta contra o dragão da austeridade, que trouxe o desemprego, as más condições sociais e a emigração porém também foca uma relação construída à base de silêncios mostrando que este "brutamontes" do bairro social, pugilista desempregado tornado cobrador de dívidas violento, é um apaixonado pela mulher e capaz de tudo para dar uma melhor vida ao filho. E fica ainda mais forte quando se torna óbvio que as dívidas de Jorge se resumem a pesados sentimentos de culpa (em relação ao pai, que o sustenta, e ao filho, a quem não consegue sustentar) e à pensão de alimentos da ex-mulher, Susana (a brasileira Mariana Nunes, escolhida por meio de casting), que trabalha em limpezas e que na verdade só o deixou porque já não aguentava o racismo do sogro.
O filme é duro, cru, e o filme vive do papel do Nuno Lopes. A sua transformação física não nos deixa indiferentes.
No geral o filme ficou um bocadinho aquém do que estava à espera e confesso que os melhores diálogos são aqueles que não foram ficcionados, aqueles em que pessoas realmente do bairro opinam sobre os subsídios de desemprego, realidade do país... chegando mesmo a ser hilariantes (apesar de referirem a situações de pobreza muitas vezes).
Em jeito de balanço saímos da sala com uma sensação de "soube a pouco" mas também não é mau de todo. Nem é carne nem peixe... é mais um filme com uma representação à qual não se consegue ficar indiferente por parte do Nuno e se calhar... mais nada!
Sem comentários:
Enviar um comentário