25/03/2017

MEMÓRIAS DE UMA MÃE EM CONSTRUÇÃO #12




27 de Agosto

Foram 3 dias a tentar manter o foco positivo, a tentar que tudo à nossa roda tivesse o máximo de normalidade (como se não estivéssemos à beira de um passo determinante na nossa luta e percurso). Foram dias intermináveis… com mais horas do que as que desejaríamos.

No dia 27 foram duas as injeções mas em compensação no dia seguinte não haveria lugar a picas. A noite anterior à punção foi diabólica. Vira para um lado, vira para o outro e o sono nada de vir… rezei. Perdia-me nas palavras e voltava ao inicio… nada me fazia concentrar, nada me fazia descansar (e era importante faze-lo pois iria ser sedada) … não me lembro qual o meu ultimo pensamento pois acabei por me deixar vencer pelo cansaço.


29 de Agosto

O dia da punção. Finalmente iriam ser-me retirados os óvulos que desenvolveram para mais tarde serem fecundados. Uma parte de mim ia-me ser retirada… a melhor parte de mim queria eu acreditar. Os óvulos mais perfeitos e resistentes. A guerra ainda estava longe de ser ganha… uma batalha de cada vez.

Mal chegámos à clinica fomos reencaminhados para um quarto privado para fazer a preparação: vestir aquela bata e cuecas sexys (momentos que dão sempre para descomprimir e partilhar risos nervosos), colocar o cateter e aguardar que a Okana me reencaminhasse para o bloco.

Recordo-me que escondi todos os medos e receios no meu melhor sorriso. Todos me diziam que era uma pessoa muito positiva e que era bom que todos fossem assim (se eles soubessem o que este sorriso já escondeu… o que esconde neste momento tao importante). No bloco o Dr. Paulo Vasco, o embrionista Ricardo, a Oksana e a anestesista (mais querida) Fátima… eram estes os meus companheiros de viagem. Era neles que eu estava a depositar, mais uma vez, todas as esperanças. Mais uma vez fixei o olhar num ponto e voltei ao meu local de oração favorito… fui até Fátima. Não sei quanto tempo la estive mas sei que acordei bem disposta, lentamente, e que em 30 minutos já estava a comer qualquer coisa (que isto de estar em jejum muito tempo não é para uma rapariga como eu). A Oksana veio ver-nos e dizer que em breve o Dr. Vasco nos viria fazer uma visita. Não passou muito tempo até que a porta se abrisse e as novidades chegassem: tinham sido aspirados 3 óvulos do ovário direito (e eu pensei logo… um! Só precisamos de um bom para ter uma gravidez, logo o saldo é positivo. Fé! Acreditar!).

Agora apenas restava esperar… de novo. Sempre este verbo, sempre! Era a vez do Ricardo entrar em ação e tomar conta dos nossos óvulos. Teríamos de esperar 3 dias e se tudo corresse bem no dia 1 de Setembro seria feita a transferência para o meu corpo. E nesse dia teríamos dado um passo gigante neste nosso longo percurso (quando comparada com outras historias a nossa foi bem curtinha, mas para quem a vive parece não ter fim).

Saímos da clinica bem-dispostos, devo dizer que me sentia bem e a caminhar com alguma normalidade. E regressámos a casa para descansar (indicações do Dr. Paulo Vasco que eu sempre acatei). A única coisa que poderíamos fazer agora era ter sempre o telemóvel contactável, sempre com bateria e sempre com rede, pois o Ricardo iria ligar durante 3 dias para fazer um relatório sobre os óvulos retirados.

Sei que é recorrente nestes meus desabafos o esperar, o aguardar, o rezar, o ansiar, mas não encontro outra forma de descrever o estado de espirito vivido. Todos estes verbos eram o resumo dos meus dias. Era com eles que me deitava (nem sempre para dormir porque o sono desaparecia diariamente), era com eles que me sentava à mesa para comer, era eles que compartilhava com o João e com algumas pessoas mais próximas… eram eles que nos/me dominavam.

Normalidade… eu tinha me obrigar a alguma normalidade e escondi-me na minha/nossa FIOAPAVIO para o fazer. Pensar em executar peças para pessoas queridas que desconheciam a montanha russa emocional que vivíamos era o truque.

Teriam passado pouco mais de 24 horas, desde que nossa punção tinha acontecido, quando o telefone tocou. Juro-vos que se o meu coração não parou… faltou muito pouco. Era o Ricardo, o embrionista, dois 3 óvulos aspirados apenas um tinha sobrevivido. Agradeci-lhe da melhor forma que soube e ficou prometida uma nova chamada para o dia seguinte. Mentiria se não vos dissesse que as lagrimas já me rolavam pelo rosto ainda mal tinha desligado a chamada. Permiti-me chorar até que as lagrimas secassem, liguei ao Joao e claro do outro lado as palavras que o meu coração precisava ouvir: “UM, precisamos apenas de UM e ainda temos esse UM. Um lutador”.

E nas 24 horas seguintes foi esse UM que permitiu que nos mantivéssemos esperançosos. Amanha seria outro dia.

Não se consegue dormir descansada quando se tem algures sob observação num laboratório um pedaço de nós que luta pela sobrevivência. E o meu pensamento estava preso a isso.

Mais um dia para enfrentar, mais umas horas até que soubéssemos se haveria transferência (seria dia 1 de Setembro), mais uns minutos a simular uma concentração que não existia.

O telefone não tocou à mesma hora do dia anterior… hesitei em ligar mas… é preciso acreditar nos técnicos que nos seguem e esperei. Esperei. Esperei até que tocou. AVA Clinic no visor e, aqui entre nós acho que nem deixei que se ouvisse meio toque, atendi. Era o Ricardo, que de uma forma delicada me dizia que o nosso embrião não tinha sobrevivido. Sempre atencioso e cuidadoso na escolha das palavras não podia pedir mais deste excelente profissional. Desliguei a chamada e não sei bem de onde saiu o som mais grotesco… sei que estava preso dentro de mim e que se libertou naquele momento. Tínhamos voltado ao início… não tínhamos nada. Nada mais do que o mesmo sonho com que iniciáramos esta historia.

Chorei… chorei muito (não vou esconder)... não sei durante quanto tempo mas rapidamente percebi que tinha de fazer algumas chamadas. Tinha de dividir esta dor com os que nos acompanharam em todos os momentos na tentativa de multiplicar a esperança… de novo!

Afinal de contas o que eu havia cravado na pele há uns meses eram as letras da palavra “BELIEVE”… não sabia bem como naquele momento mas tinha mesmo de acreditar… em algo, em qualquer coisa, no sonho, no nosso sonho!

(Continua)

2 comentários:

  1. Princesa,
    Acreditar sempre e tu e o João Acreditam por isso continuaram em frente com muito Amor, Fé e Esperança.
    Gostamo-nos.

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