Setembro 2015
Como já havia referido anteriormente a operação correu bem, segundo a
médica, e agora era tempo de recuperar para finalmente traçarmos os nossos planos.
No meio desta confusão toda o meu sogro lá lutou como um guerreiro e saiu da
situação complicada em que se encontrava e todas as coisas pareciam estar a
conjugar-se para o sucesso.
Claro que uma recuperação minha tinha ainda de ter um revés e fiz
alergia … ao penso. Bem dita hora em que o molhei no banho e em que foi necessário
refaze-lo pois só nesse momento se deu conta. Podem não acreditar mas naquele
momento custou-me mais a alergia (pois a pele veio toda agarrada ao penso) do que
a própria cicatriz de quase 20 centímetros que agora habitava em mim.
Foram 3 dias de internamento rodeada de uma equipa maravilhosa de técnicos.
Todos os elogios que poderei fazer sobre eles serão poucos. Agora era tempo de
regressar à normalidade, recuperar bem para em Dezembro regressar à médica.
A recuperação da miomectomia é em tudo parecida com a da cesariana mas
sem a parte boa de ter um bebe para cuidar. Parece que as entranhas nos vão
sair pela cicatriz mas tudo é caminho e tudo se supera quando a nossa missão é
muito maior.
Os dias passaram, o corpo regenerou-se e a cabeça apenas estava focada
no futuro.
Dia 1 de Dezembro foi o dia de regressar ao gabinete da nossa médica. Íamos
completamente descontraídos e ansiosos por saber o que tínhamos de fazer agora
para alcançar o nosso sonho. Fiz uma ecografia vaginal para saber se estava
tudo bem, manda-me vestir com a simpatia (not) habitual e (recordo-me deste
momento como se tivesse acabado de acontecer) enquanto eu me vestia, ela
escrevia no computador e verbalizava “está tudo bem, temos um mioma mas vamos
vigiar, agora vamos fazer nova medicação…” Neste momento o João olhou para mim
e foram segundos que nos pareceram anos, e perguntou “Mioma? Mas novo?”. Eu
naquele momento congelei e apenas consegui colocar um riso nervoso que não mais
largou dentro daquela sala. Ela ignorou a pergunta do João e continuou “alegremente”
escondida atrás do ecrã a debitar frases que eu já não ouvia. Recordo-me do João
ter perguntado de novo e de novo ter sido ignorado. Nós estávamos suspensos e
precisávamos de ouvir a resposta àquela pergunta. Saímos do gabinete, pagámos e
já não marcámos nova consulta… sem conversarmos ambos percebemos que não iriamos
ali voltar tao depressa. Chegados ao elevador as lagrimas já me escorriam pelo
rosto, o João já me interrogava porque razão eu não tinha dito nada à médica,
porque razão me tinha calado. Eu não estava a viver aquele momento, nós os dois
a discutir porque algo que nos era alheio mas que era determinante para a nossa
vida enquanto casal. Não podia ser verdade. Saímos do Hospital para eu
respirar, eu precisava de sair dali, de voltar a respirar… finalmente o João
entendeu que eu tinha paralelizado e decidiu ele voltar atrás para confrontar a
médica sobre o que nos tinha acontecido.
Não conseguir conter as lagrimas, só me apetecia gritar até que a voz
se esgotasse e tudo saísse cá de dentro. Os segundos novamente pareciam horas…
finalmente o João chegou e repetiu o que tinha acabado de ouvir “têm de
entender que eu não podia mexer muito no útero se é para existir uma gravidez”.
Como?? Mas não fomos nós que dissemos que estava tudo limpo, não fomos nós que
detectamos 3 miomas e que decidimos retirar os 3. Não fomos nós que usámos a
expressão “correu tudo bem retirámos tudo”. Porque razão nos era pedido agora e
sem qualquer contextualização que aceitássemos que ainda existia um mioma por trás
daquela cicatriz?
Foram horas terríveis, em que nos questionamos, em que achamos que se
calhar tomámos as decisões erradas, em que pensamos que deveríamos ter pedido
uma segunda opinião, uma terceira ou até quarta. Foi difícil olhar para o
espelho e ver ali aquela cicatriz e pensar que poderia não ser a ultima…
(continua)
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