12/04/2017

MEMÓRIAS DE UMA MÃE EM CONSTRUÇÃO #13




31 de Agosto



Hoje deveria ser o dia da transferência de óvulos fecundados… o dia em que teríamos dado mais um passo rumo à concretização do sonho. Mas não! Foi apenas mais um dia de respirar fundo e reformular expectativas. Perguntaram-nos se queríamos adiar esta consulta, mas não! Eu preciso sempre de saber com o que posso contar, preciso sempre de ver mais à frente e o João entende isso… respeita as minhas necessidades e por isso mesmo fizemos questão de conversar com o Dr. Paulo Vasco para procurar algumas respostas.

Dirigimo-nos à AVA para mais uma consulta e à nossa espera o mesmo sorriso de cumplicidade que sempre nos acompanhou desde o primeiro momento. E agora? O que fazemos agora? Eu e o João tínhamos tantas duvidas mas acima de tudo queríamos ouvir… precisávamos de ouvir alguma coisa que nos desse alento. Mal sabíamos que estaríamos perante uma das mais duras conversas da nossa vida.

“Sabem que a única forma que eu tenho de vos garantir um bebe é através da adoção não sabem?” sabíamos!?!? Claro que sabíamos mas o nosso coração e ouvidos não queriam ouvir isso… obvio que ainda que tivesse existido uma transferência de óvulos ela não nos iria garantir que a gravidez fosse bem sucedida, nenhuma gravidez dita normal garante um bebe saudável no final… mas os pais preenchem todas as duvidas e medos com esperança e amor. Basicamente o que estava na mesa era: adoção e colocaríamos fim aos tratamentos; doação de óvulos frescos (em que a dadora faz o tratamento ao mesmo tempo que a recetora) ou óvulos congelados (podendo recorrer a bancos internacionais mas que são sempre de inferior qualidade quando comparados com óvulos frescos), fazer novo tratamento semelhante ao primeiro (eventualmente alterando as dosagens de medicação) ou … ou dizer que chegou ao fim a luta e que o nosso plano de vida seria a dois.

Confesso que não estava preparada para ouvir isto… o Dr. Paulo Vasco… o nosso querido Dr., o que nos dizia sempre que precisávamos apenas de um ovulo, tinha acabado de nos colocar na mesa opções que estavam longe, muito longe, do que ia nos nossos corações. Assim que ouvi a palavra adoção o meu coração tremeu e senti-me a pior pessoa no mundo naqueles segundos imediatos porque o meu coração não ficou imediatamente aberto a essa opção. Quem é que em algum momento da vida não disse “eu adorava adotar uma criança se me fosse possível”… pois! Eu dissera-o, e agora que isso poderia ser uma realidade na nossa vida o meu coração fechara-se (ainda que por breves momentos… ou não). Ao meu lado o João, olhei para ele na tentativa de perceber se estava a passar pelo mesmo que eu… não consegui decifrar. E fiquei cada vez mais perdida e em pânico. E se ele aceitasse a adoção como opção numero 1, e se estivéssemos perante um assunto que não iriamos conseguir gerir? Foram segundos que me pareceram uma eternidade e ainda mal estava refeita do que que acabara de ouvir e já ecoavam outras hipóteses: doações de óvulos. Pequenas células de outra mulher que nos permitiriam concretizar o sonho. Mas… porque razão haverá uma mulher que coloca em risco a sua vida em prol de um sonho que não é o seu? Por dinheiro? Não pode ser, pensei eu, pois vai receber tao pouco em troca do que está a dar. Por altruísmo? Que coração bondoso possuem e eu tao egoísta por não ter sido recetiva à adoção no primeiro segundo. E essas dadoras mantêm contacto connosco? Poderão desistir a meio? Poderão um dia procurar-nos? Legalmente o que representam elas na nossa história. Eu estava cada vez mais perdida, mais desorientada. Não sei sequer se estava a respirar. Apetecia-me sair dali e gritar, chorar, espernear, apetecia-me que alguém me abraçasse e juntasse todas as peças que estavam a desmoronar naquele momento. O João fazia perguntas e eu mal o ouvia, o Dr. Vasco continuava a debitar informação que nós não estávamos preparados para ouvir mas que tínhamos de ouvir. Hoje eu sei que tinha de ser assim. A escolha teria de ser nossa, naquele momento ele apenas nos poderia apontar caminhos. E eu cada vez mais perdida….

Uma das coisas que ele nos disse (e eu ouvi) foi de que muitos casais precisam de tempo para avançar em alguma direção, quer seja para desistir dos tratamentos quer seja para optar por outra solução. Que era um processo que poderia demorar algum tempo por parte do casal a digerir. Outra das coisas era que caso avançássemos para a adoção ou doação de óvulos (de qualquer espécie) teríamos de fazer uma consulta com uma psicóloga, da clinica ou não, de forma a sermos avaliados e também a avaliarmos todas as hipóteses hoje faladas.

Tínhamos a nossa bagagem emocional com excesso que bagagem… não cabia nem mais uma dúvida, nem mais uma informação, nem mais uma opção… estávamos exaustos. Era tempo de conversarmos… os dois.

(continua)

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